terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Encontro!


Enquanto eu estava na cabeleireira, sentada e parada feito uma múmia em sua cadeira, confiando cegamente aos seus cuidados minhas sombracelhas, me aprofundei em um monólogo interno, onde mulheres vestidas de melindrosas andavam fumando e bicando com gangsters de dois metros, com suas irresistíveis feições made in bad boy.
Em meio aos puxões da pinça eis que aparece: a minha primeira narrativa. Espero sinceramente que não seja única.



O seu nome era clara, uma mulher de idade indefinida com um olhar perdido e solitário. Diariamente ela perdia ou ganhava minutos, quem sabe. Na frente da sua penteadeira.
Como hoje, ela estava olhando-se no espelho, mas desconhecia a imagem refletida.
Presa entre dois mundos, Clara vivia angustiada para resolver esse sentimento que lhe oprimia.
Em suas recordações via-se penteada e maquilada ao estilo da década de 30. Nos lapsos de memória que lhe ocorriam sempre estava vestida como uma melindrosa, em outros momentos conseguia até vislumbrar as suas sombracelhas finas e arqueadas. A imagem mental que possuía de si mesma era essa, de uma mulher dos anos 30. Mas a imagem a qual via na sua frente, era de uma mulher do século 21.
Os seus cabelos estavam presos em um coque ( tentando imitar os penteados do século passado), sombracelhas delineadas e arqueadas e a sua boca estava sempre pintada de vermelho. Pareciam cerejas maduras à espera que fossem colhidas pela pessoa certa.
Apesar da imagem refletida no espelho, ela sentia falta do seu chanel, da sua piteira com o seu cigarro de anis e da nostálgica melodia que embalava as noites do cabaret daquela época.
Além de tudo isso, o que mais fazia falta para Clara era a presença dele, aquele desconhecido que lhe deixava em brasas em seus sonhos e em seus devaneios diurno. Um puta de um homem, másculo e que transpirava testosterona em todos os seus poros. O seu corpo enorme era o parque de diversão de Clara, onde ela explorava e percorria febrilmente os seus musculos.
O seu ser era sua âncora, onde enlaçada em seus braços cortava as tormentas sem temor. Mas, o que realmente enlouquecia Clara, era o cheiro dele, que despertava seus sentidos e seus sentimentos há muito esquecidos. O seu odor estava associado a sexo.
No entanto, Clara desconhecia o seu paradeiro, para ser mais explícita, ela não saberia afirmar se ele já existiu, se vive em algum recanto do planeta ou se é apenas um "deja vu" .
A única coisa que estava claro para ela, é que estava no local e no tempo errado. Sua alma e o seu corpo anseiam por ele,pelo seu troglodita.
É um desconhecido tão conhecido, mas que está perdido entre o ontem e o hoje. Presa a esses colóquios mentais, Clara acaba suspirando insatisfeita, se apressa em terminar de passar o delineador nas pálpebras, coloca os óculos e sai para trabalhar.
Inspirando o ar matinal, inicia a sua ladainha: que é rezar para o fim do dia, só assim, poderá retornar aos seus sonhos. E quem sabe essa noite; Clara tira a sorte grande de sonhar com ele.
E nesses sonhos, ela goza entre os braços dele, satisfeita encontrando o seu tão querido refúgio. Com essa perspectiva, ela caminha apressada pela calçada para pegar a condução que passará por volta das 7:45, que irá leva-la ao seu trabalho.
Os seus passos ressoam na calçada, enquanto se dirige para a parada do ônibus. Quando ela sente um arrepio que eriça a sua penugem do pescoço, distraindo-a momentaneamente do seu intento, parando . Vira lentamente a sua cabeça para a esquerda quando se depara com aquele homem na calçada á sua frente, parado olhando todo o movimento como se fosse um predador tocaiando à sua vitima ou quem sabe à procura de algo mais.
Neste momento o olhar de ambos se encontram, um lampejo de reconhecimento passa rapidamente em suas retinas e seus lábios sorriem silenciosamente á sensação de posse que envolve a ambos.
Caminhando lentamente eles se aproximam. Clara procura alcança-lo com seus braços, para enlaça-los e saciar a sua sede de desejo. Abraçados em silêncio, os lábios se procuram enquanto as mãos se tocam fazendo o reconhecimento do corpo um do outro.
As suas narinas agitam-se pelo o odor do outro que adentra estimulando ambos, jogando-os num redemoinhos de sensações que engolfam e os tornam frenéticos em sua busca em alcançar os recesso secretos da boca úmida, as línguas dançam em um ritmo pré-estabelecido e mais antigo do que eles mesmos.
Entre mordiscos, lambidas e penetrações da língua afoita dele, Clara sente que finalmente achou o que tanto procurava naqueles rigídos braços que enlaçavam a sua cintura. Suspirando entre beijos e o palpitar latente em seu útero, ela lembra de perguntar o nome do desconhecido.
Se afastando lentamente dos seus lábios, Clara articula as palavras; nesse momento, ele também tem a mesma intenção. Tornando a situação cômica e típica dos filmes de pastelões dos cinemas mudo da década de 30.
Entre risadas e gargalhadas, ambos se apresentam e saem caminhando rua acima em direção a praça de mãos dadas, exalando contentamento, pois finalmente se encontraram e agora teriam todo o tempo do mundo para se conhecerem e se amarem.

By: Mônica.

Um comentário:

Rose siqueira disse...

Nossa!!!
Adorei o encontro.Minha querida,vc escreve muito bem,suas narrativas são maravilhosas.
Bjos meu Rose.