segunda-feira, 27 de setembro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Entre ventos e raios...

O vento balança...
O vento balança o balanço
Assim como balança as negras tranças
Da menina sentada no balanço.

Acariciada por ele,
Levantando sai...
Ao encontro dele.

Andando e dançando,
Cantando e amando,
Beijando e abraçando,
Com suas negras tranças balançando.

Seguindo em rumo...
Do seu vento amado,
Que alado está,
A brincar encantado com suas belas tranças.


By: Mônica Vasconcelos.

sábado, 11 de setembro de 2010

Ao cair da noite, tudo pode acontecer...

O desvelar de uma degolada.

À noite a qual eu morri era uma noite sem lua ou mesmo estrelas que alegrassem o firmamento. O céu se encontrava despido e envolto de um negrume característico dos maus presságios. As ruas se encontravam lotadas pelas carruagens metálicas movidas a petróleo que empesteava o ar com o dióxido de carbono, sufocando e matando a todos lentamente no decorrer dos anos.

Em seus interiores, ocupantes eram seres possuidores de feições pétreas e translucidas, desprovidos de emoções ou de calor, meras bonecas de louças; imersas em si mesmas e nas suas dores, alienadas se encontravam perdidas em seus celulares nas vãs tentativas de pôr suas vidas em ordem. Impotentes, são semideuses ao volante, pois cortam as avenidas freneticamente, rasgando as sombras trêmulas da escassa iluminação.

Andando apressadamente estava eu, perdida em caóticos pensamentos que beiravam entre a realidade e os devaneios aloprados dos sonhos não realizados.

Quando inesperadamente em meu caminho surge um ser, envolto de sombras e sem faces, que parado em minha frente está estendendo os braços para me enlaçar. Não titubeando, corro pela tangente em busca de salvação, enquanto que ele metodicamente e obstinadamente me persegue.

Na minha desabalada fuga passo pela floresta de concreto, gloriosos arranha-céus que se projetam para o alto como falos eretos sedentos pelo sexo, com suas imponentes vidraças e armações metálicas, que jazem indolentemente em sua dormência, digerindo aos seres que enclausurados em seus interiores continuam trabalhando varando à noite, enriquecendo e sustentando aos donos do capital, alimentando a eterna fome global com os seus fluídos, enquanto suas vidas se esvaem nos back-up.

Correndo, afasto-me do sepulcro vivo das grandes árvores de ferro e cimento, olhando para trás vejo o quanto o ser está próximo de mim, sentindo a adrenalina percorrendo o meu sistema circulatório, aumento a velocidade em busca do impossível. Volto à cabeça mais uma vez, soluço e lágrimas escorrem rosto abaixo se perdendo na aridez do asfalto sem vida.

Assusto-me quando ele se aproxima, envolvendo o meu corpo com os seus braços que me prende e me sujeita. Encadeada ao ser, lentamente ele se aproxima de mim, executando os passos como se fosse uma dança de acasalamento que atrai e repele. Abraçando-me! Beijando-me! Enquanto suga toda a minha essência, secando-me.

Paralisada e inerte, literalmente seca, observo ele me desnudar pouco a pouco, retirando as peças e as jogando no chão imundo da avenida. Nua e presa me afogo no medo, sendo ressuscitada no abuso que ele faz ao meu pobre corpo. Enterrando firmemente o seu sexo em minha tenra carne, amaldiçôo as convenções que me privaram de deleitar mais profundamente das sensações e lamento a falta delas em minha vida.

Depois de saciar a sua fome, me degola de um só golpe, jogando o meu pobre e abusado corpo em um matagal próximo, se agacha e pega a minha cabeça pelos cabelos. Tanto sangue...

Sai a caminhar com ela a balançar próximo as suas pernas, balançando feito um pêndulo sangrento a cada passo dado por ele. Um triste e macabro quadro, um homem envolto de sombras segurando uma cabeça decepada... Horrível!

Numa esquina próxima, junto a um poste a espera dos catadores de lixo, mais uma vitima do consumismo desenfreado. Beijando pela última vez os meus lábios sem vida, ele joga a minha cabeça em direção a caixa. Caio dentro dela e ele parte sem um último olhar.

Estou no escuro, só e abandonada dentro desta caixa. Entrego-me as reminiscências da minha curta vida. Sob as minhas pupilas mortas passam flashes do que fui, do que não fui e do que jamais serei. Presa nessas reflexões sinto falta do escoamento do tempo e me perco no tédio da eternidade.

Penso nos homens, mulheres e crianças mortos em vida, presos a um sistema massacrante de mais valia. Lamento pelos corpos sem vida dos seres que em nome de Deus ou do progresso perecem. Só, degolada, massacrada e elevada ao cubo estou.


Mia Hertz.